terça-feira, 15 de novembro de 2005

...

Pensamento pontudo gelado

Contundente espasmo

crescente

descrente

igual




Translúcido raciocínio

guia minha noção

da realidade

da felicidade

normal




Opaca burrice

torna minha crendice

científica

mefítica

sexual



Sólida ignorância

descolorida em sua certeza

magnífica

odorífera

mortal

Prisão

Ligado ao acaso
minha linha escassa
leva ao topo da graça
e ao fundo do raso

Menos calmo abraço
a idéia ingrata
devastadora e farta
do seu desenho - o traço!

Devastado afasto
o corpo, a alma, o baço
da idéia me desfaço
pensamento nefasto

Um dia me basto
de um dia ensolarado
no escuro enclausurado
durmo fútil, vil e casto

Traidores e Traídos

Envolvi-me no clichê da traição. E agora estou colhendo os louros da minha fraqueza.
Fraqueza de não ter lidado com a situação da maneira como ela devia ser tratada. Fui com toda minha força na direção que meu coração apontou e estou triste, muito triste, por ver que não há como sair disso sem marcas e sem deixar um rastro de rancor e discórdia.
Cada vez que eu penso nisso eu vejo que eu fui e sou o maior culpado por ter feito tudo que fiz. A verdade sempre magoa muito mais que a falsidade. Cada vez que eu disse o que sentia eu saí perdendo algo.
Hoje estou vendo tudo que falei sendo jogado de um lado pro outro como se fosse uma arma para intrigas sem pé nem cabeça. E na maior parte elas estão certas. Eu que fui o responsável pela idiotia de deixar minha língua ser guiada pelo meu coração.
Não me arrependo mesmo de nada que fiz e falei, tudo foi verdadeiro, mas talvez não seja compreensível para todos ver que se mudam os lados mudam as cores.
Deixo aqui meu aflito desabafo no meu blog mudo. Para que pelo menos ele seja um companheiro mais discreto. Embora exista a possibilidade de eu ver tudo que escrevo agora ser usado contra mim colado em algum canto do orkut ou do email de alguém.
Minha decepção não é maior que a de ninguém. Só queria que não houvesse decepção alguma. Que as coisas ficassem na minha memória como são... Lembranças boas e doces de um passado maravilhoso que optei por abdicar. Por força de promessas anteriores estou fadado a arcar com esse preço.
Triste passarei meus dias sem saber se a opção foi certa.
Triste vejo o meu destino ser riscado com força numa direção incerta. Poderei sentir mais e mais vontade de ter outra vida e outras escolhas.
Mas não terei...

terça-feira, 23 de agosto de 2005

Por que eu sigo vivendo

"somente a semente do meu reino permitirá que a ilusão se desfaça e a paixão se torne amor e o sonho se torne realizade"



Por que eu sigo vivendo

Se eu só vivo este sonho?

E sonhando meu reino se constrói

E se arruína diante desse amor?




Mesmo que eu não resista a olhar nos seus olhos

Preciso me ver refletido na sua retina

Mesmo que as lágrimas brotem de meus olhos

Preciso vê-las dentro do azul




Por que eu quero ter essa marca

Se eu só existo com essa dor?

E minha rainha está em outro reino

E vivo a luta pra derrotar a distancia?




Mesmo que perca a inspiração

Preciso sentir sua respiração na minha boca

Mesmo que eu perca os sentidos

Sentirei o mundo por baixo de sua pele

Meu destino

"Mesmo que a lua se apague e a noite seja intransponível seguirei pelo instinto que me leva ao meu destino"



Sinto o vento em meu rosto
Seguindo o caminho que me leva até você
Depois de dias com essa chama ardendo em mim
Nada me faz olhar pra trás

Somente o sonho que vivo de estar ao seu lado
Guia meus passos entre as pedras e à luz da lua
Mesmo sempre estando sozinho estou com você
Ao meu lado, dentro de mim e na minha alma.

Eu sigo a lua como o crente segue a fé
Um sonhador itinerante sempre em busca de um amor
Caminho sob a sombra de sua imagem
Como o sol que segue a chuva

Você é minha eletricidade e minha fornalha
Que me aquece e ilumina
Trazendo força pra este sonhador cada vez mais fraco
Com sua ausência e sigo sob a lua

Aprendo com você a cada dia
Que a dor que nos atormenta
Sigo vivendo esta meia vida
Sabendo que metade de mim está em você

Encontrarei você sob a luz da lua
Não serei mais sonhador, terei destino.
Mesmo o horizonte sendo meu paradeiro

Seguirei até você e serei mais forte

sábado, 6 de agosto de 2005

Sex

Ok... sexo é bom!

O que se resume ao sexo nem sempre está ligado ao coração, às esperanças e ao inadiável desejo de se encontrar a felicidade.

Um dia a gente pára e pensa sobre em que estamos baseando nossas vidas. Sempre chego à conclusão que o sexo tem um papel fundamental nessa escolha. Não que eu seja um ninfomaníaco, bem pelo contrário, sou super tranqüilo. Mas a genética invariavelmente controla nossas ações para fins de reprodução.

Hoje penso em ser alguém bem sucedido, não para comprar um monte de coisas, nem para ficar à toa. Penso em ser bem sucedido para poder executar melhor minhas manobras em minha vida pessoal. Poder dar uma vida legal pros meus filhos e poder decidir o que fazer da minha vida sem necessidade de sacrifícios para nenhuma das partes.

As discussões antropológicas em torno desse tema podem circundar séculos de história do comportamento humando, porém, o sexo sempre estará no cerne da questão. Ante a visão pragmática da representatividade do ato sexual, não há explicação natural ou retórica que nos trace um rumo à compreensão das metas de se copular com pessoas durante nossa breve estada neste planeta. Que não o atendimento de nossas necessidades fisiológicas básicas, neste caso - ter prazer sexual.

O que de fato nos difere das espécies animais é a capacidade de termos essa vontade não em detrimento de instintos e sim da busca pelo prazer e pela satisfação do ato em si.

Isso me faz sentir algo muito particular. Descobri que não sei porque faço sexo. Nem porque acordo de madrugada com vontade de fazer sexo. Nem porque em alguns momentos faço muito mais do que seria necessário. Nem porque fico, às vezes, semanas sem ter vontade.

Tudo dentro da normalidade pelo que acredito ser o padrão humano.

Talvez o sexo seja algo bom demais para ser ignorado.

domingo, 5 de junho de 2005

domingo, 29 de maio de 2005

Soneto

Quem dirá que o amor é fácil
Quando acontece sem aviso em nossa vida
Quem dirá que o amor é dócil
Se machuca quando urge a despedida

Quem dirá que o amor é tudo
Diante da grandeza do destino
Quem dirá que o amor sortudo
É bom como um sonho vespertino

Se os amantes em noites frias se afagam
e os corações dentro deles não mais param
é o amor que rege o auge dos sentidos

Se os pobres amantes de repente se separam
pelas mãos do destino, que os desamparam
é o amor que os larga assim sofridos.

quarta-feira, 27 de abril de 2005

Soneto de amor impossível

Se pelo ar que meu éter traga

o frio da espinha se restringe ao lago

da lágrima mais estúpida e contida

por estar sozinha mesmo ao meu lado



Se pelo cal que meu esqueleto guarda

O solavanco se expande ao mar

te esfria o sangue que o peito retarda

por estar comigo sem poder estar



Verei minhas certezas estarem erradas

maquinando um jeito de com exatidão

congelar um instante do tempo no formol



Terei minhas dúvidas mortas e enterradas

na eternidade de um momento de paixão

de um dia perfeito de areia, sal e sol

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

Mudando com as Diferenças

As pessoas se abraçam às suas crenças e convicções com tanta força, que simplesmente se fecham para qualquer outra opinião.

Algumas não aceitam mudar, mesmo com grandes vantagens na subtituição de suas idéias por outras mais novas, ou mais velhas, ou mais eficientes...

A abertura da nossa alma (se é que temos uma) só pode ser pelo caminho da mudança. Tudo pode ser feito de um modo diferente sempre. Agarrar-se à convicções e certezas nos acorrenta ao confortável mundo da imutabilidade, onde tudo é previsível, tudo é fácil e tudo é idiota.

Nada mais valioso e compensador que criar um novo modo de encarar o mundo. O que era regra ontem, é paradigma hoje. Vamos honrar nossos postos de "pensantes" com idéias constantes e profícuas.

Não existe ideologia que valha a certeza de estarmos certos. Estamos fadados à desafiar nossas convicções diante de parâmetros não previstos em nossas elucubrações.

Obviamente não é nada simples deixar de lado certezas. Até hoje existem pessoas que não acreditam que o homem tenha ido à lua (é impressionante a quantidade!) Mas estas pessoas têm certeza que a Lua não pode ser atingida afinal ela "está muito longe".

Se diante de questões como essas é comum encontrarmos pessoas que simplesmente não crêem, imagine o que ocorreria se colocássemos à pauta questões mais complexas como evolução das espécies, pena de morte, etc.

Voltando ao foco deste texto, se nós não soubermos pensar, se não tivermos a mínima base educacional, não adianta, reinará o império do comodismo.

Se não forçamos nossas cabeças a ver o mundo de outro jeito diariamente, se não nos indignarmos com nossa rotina, se não lermos coisas diferentes do que lemos toda a vida, se continuarmos crendo insanamente em nossas certezas, nada vai mudar, não teremos um futuro melhor, nem pior, apenas igual.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Contratempo

Havia uma falta de inteligência latente naquele olhar. Uma vaga sensação de frio percorera minha espinha ao encarar aqueles olhos vazios e nada mais faria diferença então.





Um carro bloqueava a esquina e eu não pensei mais em correr, e o mesmo vago frio que percorera minha espinha agora dava choques em minhas pernas - como se o sangue me abandonasse. Mas o que ele quereria?





Olhei em meu pulso o relógio de titânio, prata com dourado que ganhei de meu sogro como presente de casamento, e que minha esposa insistia em que eu começasse a usar. Depois que eu ganhara havia um ano e a bateria descarregara sem nunca ter sido usado. Então, minha esposa trocou a bateria em um camelô na Rua da Alfândega e obrigara peremptoriamente que o dito relógio fosse posto em uso. Do contrário seria caracterizada uma pungente falta de consideração para com seu pai.


Mas que nada. Daí então em diante, aquele objeto passou a ser um transtorno a mais em meu cotidiano. Afora a paranóia de ter que usar o pesado adorno em meu pulso, e daí, sofrer constantemente com o medo de ser assaltadono coletivo, ainda havia outro incoveniente, nunca usara relógio em toda a minha vida, por conta disso, ficava olhando a cada dois minutos para o mostrador (desses modernos!) e comparando o digital com o analógico que ajustei com precisão de maníaco-depressivo, de forma que cada segundo dos ponteiros correspondia exatamente ao mostrador digital com seus intrincados desenhos geométricos.

Pelo menos agora fazia algum sentido! Era uma tentativa de assalto.



- Que Deus me proteja! Mesmo que eu só me lembre dele nestas horas... – pensei olhando para o Corcovado.


Atrasei o passo, para ver se aqueles olhos ignotos desviavam de meu semblante. Que nada. O rosto pétrido se fixara em mim, causando engulhos em meu estômago. E não havia dúvidas que o sujeito me encarava. Nesse momento comecei, num lampejo, a me lembrar de um documentário que assisti no aero-barco que fazia (agora só de barca) a travessia Rio-Ribeira. O programa explicava a forma como podemos identificar, mesmo à distância, um olhar e saber se o mesmo nos é endereçado. O documentário era sobre a beleza! - lembrei. Esse pormenor surgiu quase ao mesmo tempo em que notei como o sujeito era feio.

Tive vontade de rir daquela situação toda, mas, fui são o suficiente para conter esse desejo inoportuno. Queria era sair logo daquela situação e aí sim, rir e muito de minhas próprias paranóias medrosas.

Faltavam poucos passos para cruzar com o sujeiro. Ele estava parado encostado
numa cobertura de ponto de ônibus, mas às costas do abrigo. De uma maneira que dava a entender que fazia qualquer coisa ali, menos estar esperando um ônibus.

Olhando de soslaio, percebi que o sujeito não tinha exatamente o que convém definir como “fisionomia de marginal”, mas isso não aliviou nada a situação. A calça jeans, com sapatos de camurça e a camisa hawaiano/social lhe conferiam um quê mais à la Leão de Chácara do que qualquer coisa.
E o medo crescia, já que minha boca cristalizava ácida e o suor gelava minhas costas.

Cheguei ao ápice da proximidade. Cruzei à noventa graus de onde o sujeito estava e mais dois passo me aguardavam para a certeza de que estaria libertado.

Um...

Dois...

Fácil... respiro.
Aperto o passo.

- Christian!

Como ele sabe meu nome? – penso.

- CHRISTIAN!

Agora parei, e o sangue voltou a correr pesado em minhas veias, e a boca e o suor...

Virei-me devagar.

- É comigo? – indaguei como se não soubesse a resposta.

- É. Venha aqui por gentileza.

Essa última frase surgiu com um tom entre o cordial e o irônico, mas foi clara o bastante para não ser contestada. Com um segundo de reflexão, decidi ir adiante e enfrentar, afinal, um sujeito que sabia meu nome e me chamou com algo próximo à educação merecia uma tentativa de confiança.

- Pois não? – falei

- Você conhece uma moça chamada Clara?

- Clara... Clara... Maria Clara?

E foi então que tudo veio à tona. Maria Clara era minha amante. Que coisa óbvia! Maria Clara estava ali entre nós. Era o fio condutor da pendenga desde o início, e imediatamente me tornei muito, muito pequeno...

Conheci Maria Clara na faculdade, ou melhor, tomei conhecimento de sua existência na faculdade.
Intervalo entre as aulas, vi seus cabelos castanhos e suas costas esguias, contidas em um pullover de tricô e uma calça de elanca. Fiquei olhando e olhando enquanto fumava meu cigarrinho do intervalo, fazendo cara de filme americano.

Um sujeito conversava com ela (não esse!), e então ela virou com seu sorriso espontâneo que me fez perder o limite da tragada do cigarro. Não sei se fiquei tonto com o tabaco, com a visão angelical de Maria Clara ou com os dois. Mas nem me percebeu.

O sujeito que estava conversando com ela, disse que não conseguia telefonar para ela e tal e coisa, e ela passou o telefone para ele em voz alta. Não tão alta assim, mas o suficiente para que eu pudesse ouvir.

Voltei para a sala de aula.

Aula vai, aula vem.
Matemática é muito nobre, mas não se justifica. Anotei o telefone dela e fui para casa. Não sei como decorei tão rápido o número, menos ainda como ele não se perdeu na minha cabeça durante a hora e meia de aula que tive a nobritude de assistir.

Cheguei em casa. Banho. Janta. TV. E Telefone. Lembrei do telefone, peguei o caderno e liguei o número que tinha apanhado na aula.

- Alô.

- Alô. (Voz feminina, mas nada jovial)

- (...)

- Gostaria de falar com quem?

- Boa noite minha senhora. Aí é 6549-8451?

- Sim meu filho. Quer falar com quem?

- Com sua filha.

- Quem deseja?

- Um colega da faculdade.

- Um momento. Claaaraaa! (ouvi distante).

Nesse instante, fiquei muito sem ação, em breve estaria falando em um telefone sem fio com uma moça que não conheço, escondido na copa de minha casa na Ilha do Governador enquanto minha esposa com um barrigão de grávida cochilava no intervalo da novela. Me senti um Judas. Mas não desliguei ainda.

- Alô.

- Oi Clara.

- Quem é?

- É Christian.

- Christian? Christian?

- Calma mocinha, você não me conhece. Pelo menos não saberá associar o nome à pessoa. Eu acho.

- Então porque eu deveria estar falando com você? – ela disse isso com um sorrizinho na voz.

- Não sei se você deveria estar falando comigo. Mas não se preocupe que eu não sou nenhum pervertido. Além disso sou colega da turma de Matemática III.

- Ah... Então em que posso lhe ajudar? Algo me diz que não é por causa da aula que você está me ligando.

Pensei em como ela me sacou depressa, e não se incomodou com minha ridícula e manjada cantada de telefone.

- É verdade. Não é por causa da aula que eu te liguei...

- Então o quê?

- Liguei só pra encher a tua bola. Eu te achei muito bonita. E por um acaso do destino eu gravei seu número quando você passava para outro cara.

- Obrigada pela parte que toca. – achei essa frase horrível – Mas eu tenho namorado.

- Eu imagino que sim.

- Então porque cargas d´água me ligou?

- Liguei porque mulheres como você já nascem com namorado, e o que seria de nós, homens, se não houvesse a traição?

- Seriam uns infelizes. – senti o sarcasmo no tom, mas gostei da provocativa.

- Certamente. Que tal tentar alegrar um infeliz colega de fauldade.

- Não sei... você parece meio maluco.

- Quem não é?

- Eu.

- Me engana.

Ela riu dessa última frase, e foi aí que senti que havia ganho a moça. Enfim, mais um pouco de papo de elefante e marcamos para sair. Encontraria com ela em Copa, para ir ao cinema.

Em seguida me lembro de nós dando um amasso violento no Roxy durante uma seção de um filme infantil que não tenho idéia de qual o enredo, personagens ou qualquer outra vaga lembrança que possa me rememorar o titulo do filme.

Na verdade ela não era mais nem menos bonita que qualquer outra patricinha da faculdade, mas, de fato, eu cria na possibilidade de amor à primeira vista com tanto cinismo quanto creditava minhas parcas economias ao FMI. Em suma, só remetia a idéia de amor à primeira vista como uma boa desculpa para os incautos que casavam cedo.

Assim, arranjei uma sarna para me coçar.

- Exatamente, malandro, Maria Clara, o que é que tú arrumando com a minha mina?

- Nada de mais... – menti por instinto de defesa.

- Tú é um cretino mentiroso. Ou melhor era.

Santa ingenuidade. Eu deveria estar cansado de saber que patricinha do Leblon tinha que ter um namorado barra pesada. Pelo menos no histórico.


Diante das opções que a situação me oferecia, recorri ao recurso mais óbvio. Corri.

Ao me aproximar da esquina da Rua com a Bartolomeu Mitre, percebi com a aproximação que o carro que fechava a esquina era da polícia. Como não me restava mais nenhuma dignidade, botei a boca no mundo:

- SOCORROOOOOOOO!!

Algo muito rápido aconteceu, enquanto os meganhas saíam da viatura, atirei o relógio longe, enquanto o corno corria atrás de mim. Gritei mais alto ainda:

- LADRÃÃÃOOO!!!

No momento seguinte os guardas estavam com as armas apontadas em minha direção, algo assustador para
quem não está acostumado, mesmo morando no Rio. Tive que refrear minha corrida desabalada. Virei para trás para ver a reação do meu perseguidor, mas não houve tempo para me preparar para o que estava por vir. POW. Tomei um soco certeiro no pau do nariz e o melado escorreu grosso. Em um segundo estava com a camisa molhada se sangue e os olhos completamente marejados de lágrimas.


- Parado aí vagabundo – ouvi um dos guardas gritando enquanto o outro algemava o sujeito.


- Ele queria me roubar. Como viu que perdeu me agrediu...


- Esse cara está comendo minha mina.

Escutei o som seco de uma porrada na cara do cara.

- Cala a boca, pinta brava, tú tá em cana.

Obviamente agora eu estava em melhor situação, os policiais acreditariam em qualquer coisa que eu disesse. E conseqüentemente ignorariam qualquer tentativa de argumentação por parte do agressor.

- Qual é o teu nome vagabundo?

- Ricardo. – destino irônico - pensei quase rindo, o cara se chama Ricardo!


- Cidadão. Quer prestar queixa? – o guarda me perguntou.


- Não. Faça o que quiser com ele, eu só quero ir embora.


- Mas o senhor tem que ir para um hospital.


- Não eu estou bem. Vou num particular mesmo.


Enfim, estou eu num ônibus, com a cara partida ao meio, a camisa rubra de sangue pisado, com todos
os passageiros me olhando.


Chego em casa, toco a campainha. Minha esposa abre a porta e me vê, nesse estado, em petição de miséria.


- Meu Deus, meu amor, o que aconteceu?

- Nada meu bem, tentativa de assalto...

- Mas você está péssimo... parece um chouriço, o que te roubaram

Nesse momento, olhei para a imagem do Cristo, muito longe, no Corcovado.

Respondi:

- Só o relógio.

Físicas

Realizar é enaltecer
a insignificância
a inoperância
a natureza estática da vida

Diante de tal acolhida
fico inóspito
pensante, insofismável
sinto o dedo encalacrado na ferida

Puxo o sono de meus ombros
Jogo sobre o joelho esquerdo
subo para o maquinário insano
operário eu sou em meio aos escombros

a escoliose emana o eu impuro
e sinto a pena escarnecer a fúria
desço o maquinário imberbe
e volto ao sono obtuso mútuo

acompanhado estou de novo e vivo
realizo a falsa factível força
inoperando naturalmente estico
a estática e enalteço a física